O seguinte artigo é composto de um resumo introdutório de um trabalho concluído em 1938 e recentemente publicado em tradução nos "Transactions of the Connecticut Academy of Sciences" (vol. 35, pp. 483-517), sob a editoria do Professor G. E. Hutchinson, e um novo ensaio, escrito em 1943 e traduzido a partir do manuscrito russo pelo Dr. George Vernadsky da Universidade Yale. As duas contribuições juntas apresentam a visão intelectual geral de um dos líderes científicos mais notáveis do século presente.
A tradução da citação sob o frontispício (de uma carta ao Professor A. Petrunkevitch) é a seguinte: "Eu aguardo com grande otimismo. Acredito que estamos passando por uma mudança não apenas histórica, mas também planetária. Vivemos em uma transição para a noosfera. Saudações cordiais, W. Vernadsky."
A tabela, reproduzida em resumo abaixo, que constitui o principal destaque do trabalho anterior, chama a atenção para muitas propriedades dos corpos vivos que parecem tão elementares que correm o risco de serem negligenciadas. É uma experiência instrutiva passar pela tabela aplicando os critérios aos vírus cristalizáveis, cuja natureza não estava aparente quando o trabalho anterior foi escrito.
A BIOSFERA
A matéria viva é a totalidade de todos os organismos presentes na Terra em determinado momento. É geralmente a totalidade que é importante ainda que, lidando com os efeitos do homem sobre este planeta, um único indivíduo pode ser importante. A matéria viva da Terra deve ser considerada como a soma média da matéria viva de todos os grupos taxonomicamente reconhecidos. É dito que cada um desses grupos consiste em matéria viva homogênea.
A matéria viva existe somente na Biosfera. O que inclui toda a atmosfera, os oceanos, e uma fina camada nas regiões continentais, estendendo-se três quilômetros abaixo da superfície ou mais. O homem tende a aumentar o tamanho da Biosfera.
A biosfera é distinguida como o domínio da vida, mas, também e mais fundamentalmente, como a região onde mudanças advindas da radiação recebida podem ocorrer.
Na biosfera a matéria é marcadamente heterogênea e deve ser distinguida como matéria inorgânica ou matéria viva. A matéria inerte predomina grandemente em massa ou volume. Há uma contínua migração de átomos da matéria inerte para a matéria viva e de volta à ela. Todos os objetos de estudo na biosfera devem ser considerados como o corpo natural da biosfera. Eles devem ser de uma variedade complexa, inerte, viva ou bio-inerte, como no caso do solo ou da água de lagos. O estudo de todos fenômenos possui uma unidade, levando a produção de um corpo de conhecimentos sistematizados, o corpus scientiarum, cuja tendência é crescer como uma bola de neve; este corpus inclui todo conhecimento sistematizado e é contrastado com os resultados da filosofia, da religião e da arte, onde a verdade deve ser revelada intuitivamente. A história sistematizada dessas atividades pertence ao corpus.
Dois conceitos têm sido inadequadamente enfatizados no passado: (a) Pasteur estava correto em relação à preponderância de substâncias opticamente ativas como a principal característica geral da matéria viva e seus produtos. Esta ideia é de suma importância. (b) as funções dos organismos vivos nos processos energéticos da biosfera tem sido seriamente negligenciada. A energia biogeoquímica pode ser expressa na velocidade com que a biosfera pode ser colonizada por dadas espécies. Para certas bactérias, a velocidade limite de extensão de uma cadeia divisória de células tendendo a abranger toda a circunferência da Terra tenderia a se aproximar da velocidade do som.
Tendo em mente estes princípios introdutórios, a diferença entre matéria viva e matéria inerte da biosfera é expressa em uma tabela, aqui dada de forma condensada. As diferenças nesta tabela não são meramente diferenças em relação às propriedades energéticas e químicas. Elas também envolvem uma diferença fundamental na manifestação espaço-temporal da matéria viva e da matéria inerte. É sugerido que a geometria apropriada aos corpos dos organismos vivos seja diferente daquela apropriada aos corpos inertes.
A. Corpos naturais vivos existem apenas na biosfera e apenas como corpos discretos. Eles nunca foram observados surgindo exceto de outros corpos vivos. Sua entrada na biosfera a partir do espaço cósmico é hipotética e nunca foi comprovada.
B. Formas inertes discretas estão concentradas na biosfera, mas também são encontradas em camadas mais profundas na crosta terrestre. Elas são criadas na biosfera, mas também entram nela de baixo para cima em fenômenos vulcânicos e do espaço cósmico como meteoritos e poeira.
II. A. Corpos naturais vivos, em sua morfologia celular, natureza protoplasmática e capacidade reprodutiva, têm uma unidade, que deve estar conectada com sua conexão genética entre si no decorrer do tempo geológico. Corpos naturais inertes são extremamente diversos e não têm conexões estruturais ou genéticas comuns.
III. A. As diferenças químicas entre os enantiômeros direito e esquerdo caracterizam o estado do espaço físico ocupado por organismos vivos. Enantiômeros direitos ou esquerdos predominam. B. Os enantiômeros direito e esquerdo dos mesmos compostos químicos têm as mesmas propriedades químicas em corpos inertes. O número de cristais dextrógiros e levógiros formados em um meio inerte é o mesmo.
IV. A. Novos corpos naturais vivos nascem apenas de outros preexistentes. De tempos em tempos, novas gerações surgem diferentes das anteriores. O surgimento do sistema nervoso central aumentou o papel geológico da matéria viva, principalmente desde o final do Plioceno. B. Novos corpos inertes são criados na biosfera independentemente dos corpos naturais que existiam anteriormente. Em geral, o mesmo tipo de corpos naturais é formado por processos inertes, como foram formados há dois bilhões de anos. Novos tipos de corpos inertes aparecem apenas sob a influência da matéria viva, principalmente o homem.
V. A. Não existem corpos vivos líquidos ou gasosos, embora líquidos e gases estejam presentes nos corpos vivos mesomorfos ou sólidos. O movimento espontâneo, em grande parte autoregulado, é característico dos corpos vivos. Isso pode ser passivo, como na reprodução, mas o efeito da reprodução é colonizar a biosfera, por um processo comparável à expansão de um gás. B. Corpos inertes líquidos e gasosos assumem a forma dos recipientes em que estão contidos. Corpos inertes sólidos ou mesomorfos, em geral, não mostram nenhum movimento peculiar ao corpo como um todo.
VI. A. Há um fluxo contínuo de átomos passando de e para organismos vivos da biosfera. Dentro dos organismos, um número vasto e em constante mudança de moléculas é produzido por processos não conhecidos de outra forma na biosfera. B. Corpos naturais inertes mudam apenas devido a causas externas, com exceção de materiais radioativos.
VII. A. O número de corpos naturais vivos está relacionado quantitativamente ao tamanho da biosfera. B. O número de corpos naturais inertes é definido pelas propriedades gerais da matéria e energia, e é independente do tamanho do planeta.
VIII. A. A massa da matéria viva permaneceu bastante constante, sendo determinada pela energia solar radiante e pela energia biogeoquímica de colonização, mas aparentemente a massa aumenta em direção a um limite, e o processo ainda não está completo. B. A área de manifestação dos corpos naturais inertes na biosfera é limitada pelo tamanho desta última e aumenta apenas à medida que a biosfera é expandida pelo movimento da matéria viva.
IX. A. O tamanho mínimo de um corpo natural vivo é determinado pela respiração e é da ordem de 10^-6 cm. O tamanho máximo nunca excedeu 10^4. A faixa, 10^10, não é grande. B. O tamanho mínimo de um corpo natural inerte na biosfera é determinado pelo grau de dispersão da matéria e energia, ou seja, o tamanho das partículas fundamentais da física. O tamanho máximo é determinado pelo tamanho da biosfera. A faixa é de 10^10 ou mais.
X. A. A composição química dos corpos vivos é uma função de suas próprias propriedades. B. A composição química dos corpos inertes é uma função das propriedades do meio em que são formados.
XI. A. O número de tipos de compostos químicos nos corpos vivos está conectado aos tipos de organismos individuais e provavelmente alcança muitos milhões. B. O número de diferentes tipos de compostos químicos nos corpos inertes é limitado a alguns milhares.
XII. A. Os processos na matéria viva tendem a aumentar a energia livre da biosfera. B. Todos os processos inertes, exceto a desintegração radioativa, diminuem a energia livre da biosfera.
XIII. A. Corpos naturais vivos são sempre mesomorfos, e exceto em condições latentes e com predominância de água, com uma mistura extremamente complicada de outros compostos. A composição química de qualquer tipo de matéria viva, embora não exiba relações estequiométricas, é definitivamente determinada e mais constante do que as misturas isomorfas que constituem minerais naturais. B. A composição química dos corpos naturais inertes pode corresponder a compostos químicos quase puros com relações estequiométricas precisas entre os elementos. Em minerais, predominam soluções sólidas.
XIV. A. As razões isotópicas podem ser marcadamente alteradas pelos processos na matéria viva. B. As razões isotópicas não mudam marcadamente nos corpos naturais inertes da biosfera, embora fora da biosfera, no interior da crosta, tais mudanças possam ocorrer.
XV. A. A grande maioria dos corpos naturais vivos muda suas formas no processo de evolução. As taxas nas quais essas mudanças ocorrem, no entanto, são amplamente divergentes.
No dia a dia, costumava-se falar do homem como um indivíduo, vivendo e se movendo livremente sobre nosso planeta, construindo livremente sua história. Até recentemente os historiadores e os estudantes de humanidades e mesmo para certa extensão de biólogos, conscientemente falharam em reconhecer as leis naturais da biosfera, o único envelope terrestre onde a vida pode existir. Basicamente, o homem não pode ser separado disto. E é somente agora que esta indissociabilidade começa a aparecer claramente e em termos precisos diante de nós. Ele é geograficamente conectado com sua matéria e estruturas energéticas. Na verdade, nenhum organismo vivo existe na terra num estado de pura liberdade. Todos os organismos estão indissolúvel e ininterruptamente, primeiramente através da nutrição e da respiração, conectados com o ambiente circundante e o meio energético. Fora disto, eles não podem existir em condições naturais.
No nosso século, a biosfera tem adquirido um significado inteiramente novo: está sendo revelada como um fenômeno planetário de caráter cósmico. Na Biogeoquímica nós temos que concordar com o fato de que organismos não existem somente no nosso planeta e não somente na biosfera terrestre.
O pensamento sobre a vida como um fenômeno de caráter cósmico já existe há um bom tempo, como evidenciado por arquivos de ciência, inclusive na Ciência Russa. No final do século XVII, o cientista alemão Christian Huygens colocou o problema em seu último trabalho, "Cosmotheoros”, cuja publicação aconteceu após a sua morte. Este livro, sob a iniciativa de Peter The Great, foi publicado duas vezes em Russo no primeiro quarto do século XVIII, com o título “O livro da contemplação do Mundo”. Ali, Huygens estabelece a generalização científica de que “a vida é um fenômeno cósmico nitidamente distinto da matéria inerte. Recentemente chamei esta generalização de “Huygens Principle”.
Matéria viva, massivamente, constitui uma parte insignificante do nosso planeta. Presumivelmente, isto é observado em todo curso do tempo geológico. Em outras palavras, esta relação é geologicamente eterna. A matéria viva está concentrada numa fina, mas mais ou menos contínua, película na superfície da terra na troposfera, nas florestas e nos campos e permeia todo o oceano. Sua quantidade é calculada na ordem de 0.25 por cento do peso da biosfera. Em terra firme, ela desce pela superfície da terra em acumulações não-contínuas, provavelmente até uma profundidade média inferior a 3 quilômetros.
A NOOSFERA
Nós estamos nos aproximando do clímax nesta Segunda Guerra Mundial. Na Europa, a guerra foi desatada em 1939 após um hiato de vinte e dois anos. Isso já dura cinco anos na Europa Oriental e entra no terceiro ano em nossas terras, na Europa Ocidental. No extremo ocidente, a guerra foi deflagrada muito mais cedo, em 1931, e está já no seu 13o ano. Uma guerra de tal magnitude, extensão e força é um fenômeno sem paralelos na história da humanidade e da biosfera como um todo. No entanto, ela foi precedida pela Primeira Guerra Mundial que, a despeito de seu menor tamanho, possui uma conexão causal com a presente guerra.No nosso país, a Primeira Guerra Mundial resultou em um novo, histórico e sem precedentes, forma de estado, não apenas no campo das economias, mas igualmente naquelas aspirações de nacionalidades. Do ponto de vista de um naturalista, ( e, acredito, da mesma maneira como aqueles que provém da História) um fenômeno histórico de tal poder deve e deveria ser examinado como uma parte de um único e grande processo territorial geológico, e não meramente como um processo histórico.
No meu próprio trabalho científico, a Primeira Guerra Mundial foi refletida de um modo decisivo. Ela mudou radicalmente minha concepção geológica do Mundo. Foi na Atmosfera daquela guerra que eu desenvolvi a concepção de natureza, àquele tempo esquecido e também novo para mim e para os outros, uma geoquímica e biogeoquímica concepção englobando ambas matérias inerte e matéria viva do mesmo ponto de vista. Passei os anos da Primeira Guerra em trabalho criativo científico ininterrupto, o qual tenho desenvolvido continuamente na mesma direção.
Vinte e oito anos antes, em 1915, uma Comissão para os estudos das Forças Produtivas em nosso país, a chamada KEPS foi formada na Academia de Ciências. Tal comissão, para a qual fui eleito presidente, cumpriu um nobre papel no período crítico da Primeira Grande Guerra. Completamente imprevisível, no meio da guerra, tornou-se claro para a Academia de Ciências que na Rùssia Czarista não há data precisa acerca dos agora chamados materiais crus estratégicos, e nós tivemos de coletar e digerir informações dispersas rapidamente para preencher a lacuna em nosso conhecimento. Infelizmente, no início da Segunda Guerra Mundial, somente as partes mais burocratizadas daquela comissão, o chamado Conselho das Forças Produtivas, foram preservadas, e tornou-se necessário restaurar às pressas suas outras partes.
Aproximando-se o estudo do fenômeno geológico de um ponto de vista geoquímico e biogeoquímico, nós talvez compreendamos todo o ambiente circundante no mesmo aspecto atômico. Inconscientemente, tal abordagem coincide para mim com aquilo que caracteriza a ciência do século XX e a distingue daquelas dos séculos passados. O século vinte é o século da ciência atômica.
Naquele período, entre 1917 e 1918, aconteceu de eu estar, inteiramente por acaso, na Ucrânia, e estava impedido de voltar a Petrogrado até 1921. Durante todos estes anos, onde quer que eu estivesse, meus pensamentos estavam direcionados em direção às manifestações geoquímicas e biogeoquímicas no circo ambiente natural, a biosfera.
Enquanto as observava, eu simultaneamente direcionei minhas leituras e minhas reflexões na direção deste assunto de uma forma extensiva e sistemática. Expus as conclusões, gradualmente, como elas foram se formando, através de leituras e relatórios produzidos em qualquer cidade na qual acontecia de estar, em Ialta, Poltava, Kiev, Simferopol, Novorossiysk, Rostov e etc. Além disso, em quase todas as cidades nas quais fiquei, costumava ler tudo que estava disponível em se tratando do problema em seus sentidos mais amplos. Deixei de lado tão quanto pude todas minhas aspirações filosóficas e tentei focar somente em estabelecer firme, científica e empiricamente, fatos e generalizações, ocasionalmente permitindo a mim mesmo a para recorrer à trabalhar em hipóteses científicas. Ao invés do conceito de “vida”, propus o de “matéria viva”, que agora parece estar firmemente estabelecido em ciência. Matéria viva é a totalidade dos organismos vivos. Isto é, porém, uma generalização empírica científica de fatos indiscutíveis e conhecidos por todos nós, facilmente precisados e observáveis. O conceito de “vida” sempre ultrapassa as estruturas do conceito de “matéria viva”, isso entra no espírito da filosofia, folclore, religião e artes. Tudo isso é deixado de lado com a noção de “matéria viva”.
No curso do tempo geológico a matéria viva muda morfologicamente de acordo com as leis da natureza. A história da matéria viva expressa em si mesma uma lenta modificação das formas dos organismos vivos, que, genética e ininterruptamente conectados entre si, de geração a geração. Tal ideia tem sido levantada na pesquisa científica através das eras, até que, em 1859, recebeu uma sólida fundação nos grandes achados de Charles Darwin( 1809 - 1882) e Wallace. Isto foi proposto na doutrina da evolução das espécies de plantas e animais, incluindo o homem.
O processo evolucionário é uma característica única da matéria viva. Não há manifestação disso na matéria inerte de nosso planeta. Na era criptozóica, os mesmos minerais e rochas seriam formados como estão sendo formados hoje. As únicas exceções são os corpos naturais bio-inertes conectados em algum sentido com a matéria viva.
A mudança na estrutura morfológica da matéria viva observada no processo de evolução inevitavelmente leva a uma modificação em sua composição química.
Enquanto a quantidade de matéria viva é negligenciável em relação a da matéria inerte e bio-inerte a massa da biosfera, as rochas biogénicas constituem uma grande parte de sua massa, e vão profundamente através das estruturas da biosfera. Sujeitas aos fenômenos do metamorfismo, elas são convertidas, perdendo todos os traços de vida, em um envelope de granito, e não são mais parte da biosfera. O envelope granítico da Terra é a área de biosferas. No livro de Lamarck, “Hydrogéologie” (1802), contendo muitas ideias memoráveis, matéria viva, como entendê-a, foi exibida como a criadora de todas as principais rochas do nosso planeta. Lamarck nunca aceitou as descobertas de Lavoisier ( 1743 - 1794). Mas outro grande químico, J.B Dumas ( 1800 - 1884) um jovem contemporâneo de Lamarck, aceitou as descobertas de Lavoisier e intensamente estudou a química da matéria viva, partindo da noção, desde o inicio, da importância quantitativa da matéria viva na estrutura das rochas da biosfera.
Os jovens contemporâneos de Darwin, J.D Dana ( 1813-1895) e J.Le Conte ( 1823-1901), ambos grandes geólogos americanos ( Dana era um mineralogista e um biólogo também ) expuseram, ainda antes de 1859, a generalização empírica de que a evolução da matéria viva possui uma direção definida. Este fenômeno foi chamado por Dana de “cefalização”, e por Le Conte de “era psicozóica”. Dana, como Darwin, adotou esta ideia durante sua viagem ao redor do mundo, iniciada em 1838, dois anos depois do retorno de Darwin a Londres, na qual permaneceu até 1842.
Noções empíricas de uma direção definida do processo evolucionário, sem, no entanto, qualquer tentativa teoricamente, ir mais profundamente no século dezoito. Buffon ( 1707 - 1788) falou de uma alma humana, por conta da importância geológica do homem. A ideia da evolução era estranha a ele. Assim como era estranha para Agassiz ( 1807 - 1873), quem introduziu a ideia de períodos glaciais na ciência. Agassiz viveu num período de um impetuoso desenvolvimento da geologia. Ele admitiu que geologicamente o domínio do homem tinha se tornado, ao contrário, por conta de seu () teológicos algo oposto à teoria da evolução. Le Conte relatou que Dana, tendo formalmente um ponto de vista próximo ao daquele de Agassiz, nos últimos dias de sua vida aceitou a ideia da evolução em seu então sentido interpretativo Darwiniano. A diferença entre Le Conte 's era psicozóica e “cefalização” de Dana então desapareceu. Devemos lembrar, especialmente em nosso país, que essa importante generalização empírica continua permanecendo fora do horizonte de nossos biólogos.
A solidez do Princípio de Dana, que por acaso está fora do horizonte de nossos paleontologistas, pode ser facilmente verificado por qualquer pessoa disposta a fazê-lo com base em qualquer tratado moderno de paleontologia. O princípio não apenas engloba todo Reino Animal, mas revela-se claramente nos tipos individuais de animais. Dana pontuou que, no curso do tempo geológico, ao menos dois bilhões de anos e provavelmente muito mais, tem ocorrido um processo irregular de crescimento e perfeição do Sistema Nervoso Central, começando com os crustáceos e terminando com o Homem. Este fenômeno é chamado de Cefalização. O cérebro, uma vez alcançado um certo nível no processo evolucionário, não está sujeito a regressões, mas pode somente progredir
Procedendo da noção do papel geológico do homem, A.P Pavlov (1854 - 1929) nos seus últimos anos de vida costumava falar de uma Era Antropológica na qual vivemos atualmente. Enquanto ele não tomou em conta a possibilidade de destruição material e espiritual que nós estamos agora mergulhados durante a invasão bárbara dos Alemães e seus aliados, pouco mais de dez anos após a sua morte, ele corretamente enfatizou que o homem, bem abaixo de nossos olhos, está se tornando uma poderosa e sempre-crescente força geológica. Essa força geológica foi formada quase que imperceptivelmente durante um longo período de tempo. Uma mudança na posição do Homem em nosso planeta ( primeiramente sua posição material) coincide com isso. No século XX, o homem, pela primeira vez na história da Terra, conheceu e ocupou toda a biosfera, completou o mapa geológico do planeta Terra e colonizou toda a superfície. A Humanidade tornou-se uma totalidade única na história da vida na Terra. Não há ponto na terra onde o homem não possa viver se assim desejar. A permanência de nosso povo provou no gelo flutuante do Polo Norte, em 1937 - 1938, provou isso claramente. Ao mesmo tempo, devido às poderosas técnicas e ao sucesso do pensamento científico, do rádio e da televisão, o homem é capaz de falar instantaneamente com quem ele quiser em qualquer ponto de nosso Planeta. O transporte aéreo tem alcançado uma velocidade de centenas de quilômetros por hora e não chegou ainda ao seu limite. Tudo isso é resultado da “cefalização”, o crescimento do cérebro humano e o trabalho dirigido por seu cérebro.
O economista L.Brentano, iluminou o significado planetário desse fenômeno com o seguinte cálculo impressionante: “ Se um metro quadrado for disponibilizado para cada homem e se todos os homens forem postos um perto do outro eles ocupariam uma área ainda menor do que o Lago de Constância, entre as bordas da Bavária e da Suíça. O restante da superfície terrestre permaneceria vazia de homens. Logo, toda humanidade posta junta representa uma massa insignificante da massa do Planeta. Sua força é derivada não de sua matéria, mas de seu cérebro. Se o homem entender isto e não usar seu cérebro e trabalho para autodestruição, um futuro imenso é aberto diante dele na história geológica da biosfera.
O processo evolucionário geológico mostra a unidade biológica e igualdade de todos os homens, Homos sapiens e seus ancestrais, Sinanthropus e outros. Sua descendência na mistura de brancos, vermelhos, amarelos e pretas raças evolui incessantemente em inúmeras gerações. Esta é uma lei da natureza. Em um processo histórico, como por exemplo, numa guerra de tal magnitude como a presente, ele finalmente quem segue tal lei. Não pode-se se opor com impunidade ao princípio da unidade de todos os homens como uma lei da natureza. Uso aqui a expressão “lei da natureza” como esse termo é usado mais e mais nas Ciências físicas e químicas, no sentido de uma generalização empírica estabelecida com precisão.
O processo histórico está sendo radicalmente transformado sobre nossos olhos. Pela primeira vez na história da humanidade os interesses das massas estão nas mãos, e o pensamento livre dos indivíduos de outro, determina o curso da vida da humanidade e provém padrões para as ideias de justiça dos homens. A humanidade considerada como um todo está se tornando uma poderosa força geológica. O surgimento do problema da reconstrução da biosfera em consonância com com a livre humanidade pensante como uma totalidade singular. Esse novo estado da biosfera, para qual nos aproximamos sem nos dar conta, é a Noosfera.
Na minha palestra na Sorbonne em Paris, nos anos de 1922-23, aceitei o fenômeno biogeoquímico como a base da biosfera. Os conteúdos de parte destas leituras foram publicadas em meu livro “ Estudos em Geoquímica”, no qual apareceu primeiro em Francês, em 1924, e então numa tradução Russa, em 1927. O matemático francês Le Roy, um filósofo bergsoniano, aceitou a fundação biogeoquímica da biosfera como um ponto de partida e, nas suas leituras no French College em Paris, introduziu em 1927 o conceito de noosfera como o estágio através do qual a biosfera está passando neste momento. Ele enfatizou que ele chegou a tal noção em colaboração com seu amigo Teilhard de Chardin, um grande geólogo e paleontologista, agora trabalhando na China.
A Noosfera é um novo fenômeno biológico em nosso planeta. Pela primeira vez o homem se tornou uma força geológica de larga escala. Ele pode e deve reconstruir a província de sua vida pelo trabalho e pensamento, reconstruindo isso radicalmente em comparação com o passado. Grandes e amplas possibilidades criativas abrem-se diante dele. Pode ser que a geração de nossos netos se aproxime de seu florescimento.
Aqui um novo enigma surge diante de nós. O pensamento não é uma forma de energia. Como então pode alterar processos materiais ? Esta questão não foi ainda resolvida. Até onde sei, isto foi primeiramente colocado por um cientista americano nascido em Lvov, o matemático e biofísico Alfred Lotka. Porém, ele foi incapaz de resolver isto. Como Goethe ( 1740 - 1832 ) não apenas um grande poeta, mas também um grande cientista, uma vez corretamente percebeu, nas Ciências nós podemos saber como algo aconteceu, mas não podemos saber porquê isto aconteceu.
Quanto à chegada da noosfera, nós vemos ao nosso redor em cada passo os resultados empíricos daquela “incompreensível” processo. Aquela raridade mineralógica, ferro nativo, é agora produzido aos bilhões de toneladas. Alumínio nativo, que nunca existiu antes em nosso planeta, é agora produzido em qualquer quantidade. O mesmo é verdade em relação aos incontáveis números de combinações químicas artificiais ( minerais culturais biogênicos) ineditamente criado em nosso planeta. O número de tais minerais artificiais está constantemente crescendo. Todas as matérias-primas estratégicas procedem daqui. Quimicamente, a superfície do nosso planeta, a biosfera está sendo rapidamente transformada pelo homem, conscientemente, e cada vez mais, inconscientemente. O envelope aéreo da terra, assim como todas as águas naturais estão mudando tanto fisicamente como quimicamente pelo homem. No século XX, como resultado do crescimento da civilização humana, os mares e partes de oceanos mais próximos das costas tornam-se modificados mais e mais marcadamente. O homem agora deve apropriar-se mais e mais de medidas para preservar em nome das futuras gerações a saúde dos mares, que não pertencem a ninguém. Ao lado disso, as novas espécies e raças de animais e plantas estão sendo criadas pelo homem. Contos de fada parecem possíveis no futuro: o homem está se esforçando para emergir além dos limites deste planeta em direção ao espaço cósmico. E ele provavelmente fará isso.
Atualmente nós não podemos nos dar o luxo de não realizar isto, nesta imensa tragédia histórica pela qual estamos atravessando, nós temos elementalmente escolhido o caminho certo em direção à Noosfera. Digo elementalmente como toda história da humanidade está caminhando nesta direção. Os historiadores e líderes políticos apenas começaram a se aproximar de uma compreensão do fenômeno da natureza deste ponto de vista. A abordagem de Winston Churchill (1932) do problema, do ponto de vista de um historiador e líder político é muito interessante.
A noosfera é o último de vários estágios da evolução da biosfera na história geológica. O curso desta evolução apenas começou a se tornar clara para nós através de um estudo de alguns dos aspectos do passado geológico da biosfera. Deixe-me citar alguns exemplos. 500 milhões de anos atrás, na era geológica cambriana, as formações esqueléticas dos animais, ricas em cálcio, apareceram pela primeira vez na biosfera; os das plantas apareceram aproximadamente há dois bilhões de anos atrás. Esta função cálcica da matéria viva, agora poderosamente desenvolvida, foi um um dos fatores mais importantes na mudança geológica da biosfera. Uma mudança não menos importante na biosfera ocorreu entre 70 a 110 milhões de anos atrás, no período Cretáceo, e especialmente durante o Terciário. Isto ocorreu na época das florestas verdes, que valorizamos muito, onde foram formadas pela primeira vez. Esta é outro grande estágio evolucionário, análogo à noosfera. Foi provavelmente nestas florestas em que o homem apareceu, cerca de 15 ou 20 milhões de anos atrás.
Agora nós vivemos no período de uma nova mudança evolucionária na biosfera. Estamos entrando na noosfera. Este novo elementar processo geológico está acontecendo neste momento tempestuoso, numa época de uma Guerra Destrutiva Mundial. Mas o fato importante é que nossos ideais democráticos estão alinhados com o elementar processo geológico, com as leis da natureza e com a Noosfera. Portanto, nós devemos encarar o futuro com confiança. Está em nossas mãos. E não vamos deixar escapar.
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