Ao amigo: Coruja
É preciso se demorar:
compreender o verdadeiro tamanho das coisas,
até que a distância entre os seres pareça menor,
como se entrelaçado tudo fosse.
É preciso se demorar e,
com as mãos ocupadas,
instaurar um novo tempo,
onde a demora seja, finalmente, sinônimo de rapidez.
É preciso se demorar
para ver as rosas nascerem,
o fim do ano vir
e depois o outono.
É preciso se demorar,
escolher a palavra quase certa,
nos censurarmos nas horas de total incerteza
para depois podermos dançar juntos durante os dias seguintes.
É preciso se demorar sobre o elo mais fraco,
sobre a carta que sustenta todo castelo e decidir
se ele deve ou não
ser derrubado.
É preciso se demorar
no toque, no talho
da escultura:
não importa sua matéria-prima.
É preciso se demorar
sobre as nossas cores,
sobre os nossos teares,
sobre as nossas bandeiras.
É preciso se demorar:
pois a pressa,
hoje,
é pelo fim do mundo.
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