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Trecho: A reificação e a consciência do proletariado - G. Lukács, HCC


Trecho retirado do livro História e Consciência de Classe, de G. Lukács, 1922, segunda edição, 2012, editora Martin Fontes




3. O ponto de vista do proletariado


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Somente a dialética histórica cria aqui uma situação radicalmente nova. Não apenas porque nela os limites históricos relativizaram-se a si mesmos, ou melhor, tornaram-se fluidos; não apenas porque todas aquelas formas de existência, cuja contraparte conceitural é o absoluto em suas diferentes formas, são dissolvidas em processos e compreendidas como manifestações concretas da história - de modo que o absoluto não é negado abstratamente, mas compreendido sem sua figura histórica concreta, como momento do próprio processo -, mas também o processo histórico, em seu caráter único, em sua aspiração dialética progressiva e em suas mais elevados da verdade, do autoconhecimento (social) do homem. A "relativização" da verdade em Heel significa que o fator superior é sempre a verdade do fator que se encontra numa posição inferior no sistema. Por isso, a "objetividade" da verdade não é destruída nesses níveis limitados. Ela apenas adquire um sentido diferente qquando é inserida numa totalidade mais concreta e mais abrangente. Quando então, em Marx a dialética torna-se a própria essência do processo histórico, esse movimento de pensamento aparece igualmente apenas como uma parte de todo movimento da história. A história torna-se a história das formas de objetivação que constituem o ambiente e o mundo interior do homem, os quais ele se essforça para dominar o pensamento, na prática, na artes etc. (enquanto isso o relativismo trabalha sempre com formas de objetivação rígidas e imutáveis.) No período da "pré-história da sociedade humana" e da luta de classes, a verdade nao podia ter outra função senão a de fixar, de acordo com as exigências de dominação do ambiente e da luta, as várias atitudes possíveis em relação a um mundo não compreendido em sua essência. A verdade só podia alcançar uma "objetividade" relativa ao ponto de vista das classes individuais e às formas de objetificação correspodentes a elas. No entanto, tão logo a humanidade compreendeu claramente e, por conseguinte, remodelou o fundamento de sua existência, a verdade adquiriu um novo aspecto. Quando a unificação entre teoria e prática, que viabiliza a transformação da realidade, é alcançada, o absoluto e o seu pólo oposto "relativista" terão cumprido seu papel histórico. Pois, o reconhecimento prático e a tranformação real desse fundamento da existência acarretaram o desaparecimento daquela realidade que o absoluto e o relativo exprimiram de forma semelhante em seu pensamento. Esse processo começa com a consientização do ponto de vista de classe do proletariado. Por isso, a designação de "relativismo" para o materialismo dialético é extremamente enganosa. Pois seu ponto de partida aparentemente comum - o homem como medida de todas as coisas - significa - para ambos algo qualitativamente distinto e até mesmo oposto. E o início de uma "antropologia materialista" em Feuerbach é, de fato, apenas um início que, em si mesmo, permitiu formações posteriores e inteiramente distintas. Marx incorporou incorporou radicalmente a sugestão de Feuerbach e concluiu-a. Nesse ponto, se volta nitidamente contra Hegel. "Hegel faz do homem o homem da autoconsciência em de fazer da autoconsciência a autoconsciência, do homem real e, por isso também, do homem que vive num mundo objetivo, real e condicionado por ele". Ao mesmo tempo, porém - e na verdade, ainda no período em que estava mais fortemente influenciado por Feuerbach -, ele concebeu o homem histórica e dialéticamente. Ambos em duplo sentido. Em primeiro, nunca fala do homem, do homem absolutizado abstratamente, mas pensa-o sempre como membro de uma totalidade concreta, da sociedade. Esta deve ser explicada por ele, mas somente quando ele próprio estiver inserido na totalidade concreta, quando for elevado a uma concreção verdadeira. Em segundo lugar, o próprio homem toma parte do processo dialético de maneira decisiva enquanto fundamento objetivo da dialética histórica, enquanto sujeito-objeto idêntico a ela subjacente. Em outros termos, para que se aplique a ele a categoria abstrata inicial, própria da dialética: simultaneamente ele é e não é.


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